À conversa com a Psicóloga Benedita Moutinho – 1

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Conheço a Mariana há muitos anos. É uma amiga, mulher e mãe que admiro. Convidou-me para escrever no seu blog sobre alguns temas importantes naquele que é o maior e mais difícil desafio que enfrentamos nas nossas vidas: ser mãe.

Sou Psicóloga, especializei-me na área Clinica e de Saúde e tive a sorte de poder focar o meu trabalho em crianças, alimentando assim ainda mais, a grande paixão que tenho por tudo o que as rodeia. São estes seres mais pequeninos que me ajudam a crescer, a adquirir experiência e a aprender tantas coisas boas. Sou também mãe de duas meninas, uma de 3 e outra de 1 ano. Com elas o meu trabalho alcançou outro significado, a minha visão moldou-se e a minha vida atingiu uma dimensão imensa.

 Para começar escolhemos falar sobre gémeos! Mais especificamente, a decisão de os colocar na mesma escola, na mesma turma, com os mesmos amigos…Dúvida que surge muitas vezes, especialmente com a entrada no 1º Ciclo. Não tarda irá chegar a casa da

Mariana que, com certeza quererá estar bem informada para saber agir da melhor forma possível!

Infelizmente surge aqui uma “má” notícia. Enquanto pais poucas vezes estaremos 100% seguros das nossas decisões. Cada criança é um ser individual, único e especial. Por muito que se pesquise ou que se procure opiniões, por vezes temos de recorrer às nossas intuições e adoptar um papel de espectador, vendo como funciona para o/a nosso/a filho/a e conhecendo-o assim um pouco melhor.

Quero com isto dizer que não há uma resposta certa. Existem estudos que alertam para as consequências emocionais ao separarmos os irmãos, outros que defendem a importância da independência entre eles fora de casa.

A verdade é que podemos estar a falar de pessoas mais ou menos competitivas, mais autónomas e seguras ou mais frágeis, dependentes, com baixa auto-estima. Entre outras, são estas características da personalidade que, muitas vezes, ditam a forma como irão encarar este desafio da sua vida.

Pode haver irmãos gémeos, de personalidade forte, seguros de si, que sejam unidos e precisem do outro ao seu lado, funcionando bem esta convivencia diária, ou pode haver outros que sejam menos confiantes, tenham menos autoestima e por isso, o facto de

presenciarem o sucesso escolar do irmão ou irmã, sujeitando-se à constante comparação e partilha, seja mais um motivo para que se sinta desvalorizado ou inferior.

É claro que se torna mais prático colocar os irmãos na mesma escola, sejam gémeos ou não. E quando são familiares, irmãos ou por exemplo primos, a tendência natural é querer que estejam juntos na mesma sala. Não havendo sinais de que isso possa correr mal, não há então nada que impeça essa decisão. A ideia primordial é não esquecermos a individualidade de cada um.

– Não devemos tratá-los pelos “gémeos” e sim pelo seu nome próprio;

– Não devemos subentender que por serem gémeos terão os mesmos gostos ou vontades, devemos procurar conhecê-los e ver as suas diferenças;

– Não podemos deixar que um seja a sombra do outro;

– Temos de nos esforçar por não os comparar, nem qualidades nem fraquezas;

– Não podemos esquecer que todas as crianças têm um ritmo próprio de desenvolvimento e aprendizagem e, mesmo sendo irmãos gémeos, podem apresentar dificuldades escolares diferentes;

– Devemos estimular a interação com outras crianças, para que o grupo de pares seja além do/a irmão/irmã;

– Devemos dar vez a cada um de contar o seu dia, mesmo quando poderão contar situações ou acontecimentos semelhantes;

– Devemos estar atentos aos sinais da necessidade de espaço; em casa, podemos criar o “dia do Filho único” e/ou podemos dar-lhes a escolher jogos, brincadeiras e mesmo atividades extra curriculares diferentes;

– Devemos lembrar sempre que cada filho é um ser EU – especial e único.

É esta perspectiva que partilho com a Mariana.

A sua decisão, em conjunto com o Mingas, terá sempre que ser formada e consciente. Mas, por enquanto, neste primeiro par de gémeos terá uma vantagem sobre o segundo. O Tomás e a Matilde demonstram ser, cada um à sua maneira, crianças muito despachadas, independentes e seguras. O serem rapaz e rapariga pode por si só trazer-lhes alguma autonomia e individualidade, pois a diferença de género pode levar à espontânea escolha de diferentes amigos e brincadeiras, criando cada um o seu próprio espaço, dentro da mesma sala.

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3 Comentários
  • Lia

    Responder

    Obrigada Mariana por mais uma rubrica tão interessante e importante…. muitas vezes me deparo com estas dúvidas.
    Eu tenho uma menina normalmente muito despachada e independente e um menino mais “timido” (fora de casa) e muito mais apegado (especialmente) a mim. Têm 4 anos e estão juntos na mesma turma da pré primária e nem considerei outra hipótese pois já assim foi difícil a adaptação dele. Tem amigos em comum e outros que sao mais de um ou de outro, no inicio o meu filho só brincava com a irmã, agora ja o noto mais solto mais brincalhão com mais a vontade com os colegas e com a educadora que ambos adoram. Começaram este ano as actividades extra curriculares (na escola têm música e ginástica) ela o ballet que já pedia há mais de um ano, e ele o Judo que lhe tem feito maravilhas. Apesar de ainda não dispensar a minha presença nos treinos, adora lá estar, fica muito orgulhoso de cada novo movimento aprendido e já está muito à vontade com todos os colegas mesmo com os muito mais velhos. Acho que está a ser e vai ser um boa ferramenta para ele ganhar mais confiança e autonomia, que a irmã tem em boa dose…
    Por enquanto planeio que fiquem na mesma turma na primária mas se algum dia verificar que estará a ser prejudicial para algum deles irei claro reconsiderar.

    • Mariana Seara Cardoso

      Olá!
      Obrigada pelo seu testemunho.
      Tenho a certeza que vai gostar, vai ter muitas coisas interessantes.
      pode sugerir temas ou colocar questões.
      Beijinho e obrigada pela partilha.

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