À conversa com a Psicóloga Benedita Moutinho – 7
Hoje e dia da Dra. Benedita falar sobre ansiedade infantil, muito útil e cheio de dicas para nos ajudar a perceber e tentar resolver os medos dos nossos filhos.
🙂
Ansiedade Infantil
Uma das perguntas mais frequentes dos pais é o que responder quando os filhos começam a exprimir “Tenho medo…”
Mas o que é isto, MEDO?
Os medos são normais no desenvolvimento do ser humano e funcionam como meios de adaptação a variados acontecimentos stressantes, pois permitem às pessoas reagirem rapidamente às situações. É costume, até, eu dizer em consulta que existem 2 tipos de medos: os medos bons e os medos maus. Os primeiros são aqueles que nos protegem e fazem com que as pessoas respeitem as regras de precaução (como, por exemplo, ter medo de atravessar a rua sem olhar para ver se vêm carros, ou ter medo de entrar na jaula de um leão) e os segundos são medos que nos fazem sofrer e prejudicam a nossa qualidade de vida (por exemplo, ter medo de dormir na própria cama ou ter medo do escuro).
As crianças, tal como os adultos, também experienciam numerosos medos durante o seu crescimento e maturação. A maioria desses medos é transitório (embora alguns permaneçam até à idade adulta), de intensidade leve e específica de uma idade. Abaixo coloco um quadro que ajuda a esclarecer quais os medos mais frequentes em cada faixa etária.
Idade Medos mais frequentes
O – 2 ANO Estímulos intensos e desconhecidos.
Ex: Pessoas estranhas, separação das figuras de vinculação.
2 – 4 ANOS Medo de animais e do escuro.
4 – 6 ANOS Medo de fantasmas, monstros, bruxas, sons à noite e escuro em geral. Tempestades. Separação dos pais.
6 – 9 ANOS Danos corporais, assaltos, catástrofes naturais e morte. Fracasso (baixo rendimento escolar e/ou atlético).
9 – 12 ANOS Acidentes e doenças. Baixo rendimento escolar. Conflitos parentais.
12 – 18 ANOS Relações interpessoais. Aceitação de grupo.
Quando esse medo se torna maior e mais sério, podemos estar perante uma fobia, que significa medo/horror e é suscitado pela presença de um objeto, ou de uma situação ou pessoa, que não representam nenhum perigo real mas provocam uma séria angústia, pânico ou terror paralisante. Geralmente, a pessoa fóbica vai tentar fazer desaparecer esse efeito recorrendo a estratégias defensivas como, por exemplo, a fuga ou o evitamento.
Se os medos ou preocupações forem excessivamente fortes, e a criança ou adolescente se sentir perdido, poderão ter repercussões na escola, em casa e no seu comportamento e devemos, então, procurar ajuda especializada.
As perturbações de ansiedade constituem uma considerável percentagem das perturbações da infância e da adolescência e, quando há uma intervenção atempada, os medos tendem a ser superados e não prejudicam o desenvolvimento da criança.
A ansiedade é um estado emocional desagradável que tem uma causa pouco clara e é frequentemente acompanhado por alterações fisiológicas e de comportamento semelhantes às causadas pelo medo. Habitualmente pode traduzir-se por mal-estar excessivo e recorrente, preocupação excessiva e persistente, relutância ou recusa, pesadelos, queixas repetidas de sintomas físicos, défice social, escolar, ocupacional ou noutras áreas importantes do
funcionamento, ataques de pânico inesperados.
Consulta de Psicologia Infantil : Avaliação da Ansiedade e Intervenção.
1. Objetivos para a criança
Reconhecer pensamentos, emoções e comportamentos negativos associados ao medo;
Desenvolver estratégias alternativas para lidar com esses pensamentos e emoções;
Desenvolver o locus de controlo interno e motivação intrínseca da criança;
Ser capaz de evitar pensamentos negativos;
Ser capaz de enfrentar o medo e deixar de o evitar;
“Desobedecer” ao que o medo manda fazer;
Treinar o corpo para que se sinta bem e aprender a ficar relaxado mesmo com
pensamentos assustadores;
Ter outros pensamentos alternativos;
Reforçar e responsabilizar pelos progressos obtidos ao longo da intervenção.
Não é o medo que deve dominar a nossa vida, nós é que devemos dominar o medo!
2. Objetivos e Estratégias para os pais
Sensibilizar os pais para a problemática da criança;
Ser capaz de reforçar a criança em momentos de progresso;
Recomendações terapêuticas.
Biblioterapia – consiste na leitura de histórias que envolvam medos semelhantes aos dos nossos filhos. O objetivo desta técnica é a modelagem, uma vez que a mudança pode resultar da aprendizagem da história. Um livro que eu utilizo muito é “Pôr o medo a fugir – As Aventuras da Joana contra o Medo” (Margarida Rangel Henriques, Miguel Gonçalves e Joaquim Freitas, Editora Quarteto).
Jogos – Permitem atribuir competências à criança de se movimentar no escuro ou em ambientes temíveis de uma forma lúdica e descontraída. Em todos eles devem enfatizar o modo como a criança realiza a tarefa e utilizar o reforço. Seguem alguns exemplos:
Jogo do lenço: A criança é vendada e tenta encontrar um brinquedo no seu quarto (colocado num sítio acessível).
Jogo do brinquedo no quarto: A criança vai a um quarto escuro para apanhar um brinquedo num determinado sítio.
Jogo animais na parede: Os pais mostram à criança como se faz com as mãos sombras de animais (que não sejam assustadores!) na parede de um quarto escuro.
Jogo de relaxamento: O exercício de relaxamento inclui braços, pernas, cara, testa, pescoço, ombros, estômago e dedos. Os pais recebem instruções sobre como ajudar os filhos quando eles têm pesadelos e como ajudar a criança a relaxar e a ter pensamentos positivos.
3. Dicas práticas
Respeitar o ritmo da criança;
Proceder com paciência;
Ser compreensivo;
Recompensar pequenos progressos;
Reconhecer a evolução da criança;
Dar feedback à criança sobre o seu desempenho – registo semanal.
Reforçar a criança pelos seus sucessos;
Evitar o uso da punição;
Respeitar e incentivar a autonomia da criança;
Evitar desenvolver expectativas demasiado elevadas;
Utilizar as recomendações terapêuticas.
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Obrigada!
Espero que que tenha sido útil e que vos ajude a compreender melhor os medos.
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